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Como Pais Podem Proteger Seus Filhos da Violência no Esporte

  • Foto do escritor: Markus Lothar Fourier
    Markus Lothar Fourier
  • 28 de ago.
  • 3 min de leitura

Recentemente, escutei a entrevista da nadadora olímpica Joanna Maranhão para a Rádio Novelo. É uma história muito forte e que traz reflexões fundamentais sobre os bastidores do esporte de alto rendimento — pressões, hierarquias rígidas, casos de abuso e também sobre como podemos construir ambientes esportivos mais seguros. Se você ainda não ouviu essa entrevista, recomendo demais que pare um tempo para escutá-la. O link está aqui.

Neste texto, não vou comentar muito a entrevista dela, não conseguiria falar melhor do que ela, mas quero me aprofundar em um ponto que considero essencial: o papel dos pais na prevenção e mitigação dos riscos de violência no esporte. Essa é uma responsabilidade grande, mas também uma oportunidade de garantir que a experiência esportiva dos filhos seja saudável, prazerosa e formativa. Meu objetivo é que pais e mães de atletas encontrem aqui uma ajuda para saber como mitigar os riscos de abusos e violências no esporte. Vamos aos pontos que me parecem importantes.

1. Entenda os riscos

O esporte, especialmente o de alto rendimento, tem uma cultura hierárquica que muitas vezes naturaliza práticas violentas. Aquilo que em qualquer outro ambiente seria considerado abuso, dentro do esporte pode ser visto como “normal”. Geralmente começa com microagressões e comentários depreciativos, que, se não forem questionados, podem evoluir para situações mais graves.

É importante também reconhecer populações mais vulneráveis — meninas, pessoas negras, imigrantes e atletas LGBT sofrem riscos aumentados de violência no esporte. Outro fator crítico é a especialização precoce: jovens com contratos ou bolsas antes dos 18 anos relatam índices maiores de abuso psicológico e sexual.

2. Fortaleça a autonomia de seus filhos

Um dos aprendizados mais valiosos da Joanna vem das conversas que ela tem com o próprio filho, de apenas cinco anos. Desde cedo, ela fala sobre consentimento, sobre o direito de questionar o treinador e sobre poder dizer “não”. Esse tipo de diálogo é fundamental, porque dá às crianças a confiança de reconhecer limites e se posicionar.

Como pais, precisamos priorizar o bem-estar emocional dos nossos filhos em vez de olhar só para desempenho. Isso significa conversar sobre sentimentos, respeitar os limites deles e estar atentos ao prazer que a prática esportiva traz. Treinar duro é parte do esporte, mas nunca pode significar desumanizar.

3. Observe o ambiente e os treinadores

Um ambiente esportivo seguro é aquele que trata atletas como pessoas em desenvolvimento, não como máquinas de resultados. Vale observar a postura do treinador: ele usa sua autoridade para construir ou para humilhar? Ele escuta os atletas e respeita seus limites?

Outro ponto essencial é manter vigilância saudável, sem entregar confiança cega. Casos como o do médico Larry Nassar, que abusou de ginastas americanas durante anos, mostram como relações de confiança excessiva podem ser perigosas.

4. Prepare-se para situações difíceis

Infelizmente, sabemos que nem sempre instituições esportivas estão preparadas para lidar com denúncias. Muitas vezes a prioridade delas é proteger a própria reputação. Por isso, se algum dia for necessário denunciar, é fundamental avaliar antes se há suporte psicológico, jurídico e uma rede de apoio para lidar com as consequências.

5. Apoie mudanças maiores

Além do cuidado com cada filho, também temos um papel coletivo. Apoiar iniciativas que defendem a criação de agências independentes de esporte seguro no Brasil é fundamental. Países como Alemanha, EUA e Canadá já estão desenvolvendo estruturas assim, que fiscalizam federações e clubes e oferecem proteção real para atletas.

Falar de violência no esporte não é fácil, mas é urgente. Como pais e responsáveis, temos a chance de transformar o ambiente esportivo em um espaço de desenvolvimento humano e não de sofrimento. E esse cuidado começa no dia a dia: ouvindo nossos filhos, respeitando seus limites e colocando sempre o bem-estar deles acima de qualquer medalha.

Joanna Maranhão
Joanna Maranhão

Referência


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