Jogue para Vencer - O que aprendi com Brad Gilbert
- Markus Lothar Fourier

- 25 de ago.
- 4 min de leitura
Este texto é compartilhar minhas impressões sobre o livro Jogue para Vencer, do Brad Gilbert. Ele foi um tenista profissional nas décadas de 1980 e 1990, chegou ao 5º lugar do ranking mundial, e sempre me chamou atenção — mas depois de ler esse livro, passei a admirar ainda mais seu trabalho.
Gilbert não era um jogador naturalmente brilhante em termos técnicos, como muitos dos seus contemporâneos. Para o nível em que jogava, não era considerado talentoso — e ele mesmo reconhece isso. Ainda assim, venceu repetidamente atletas mais talentosos, como Agassi e Lendl. Como? Por causa da sua inteligência tática e da sua força mental. E é isso que ele compartilha no livro: como construir vitórias mesmo quando o talento ou a força bruta não são suficientes.
O básico que (quase) ninguém faz
O livro é muito prático. Repleto de dicas simples, diretas e aplicáveis. No início, confesso que achei tudo básico demais: dormir bem, se alimentar, se hidratar, aquecer adequadamente antes do jogo. Mas ao lembrar da minha época de atleta — e ao observar campeonatos juvenis atualmente — percebo o quanto esses “básicos” ainda são negligenciados. Muitos jovens simplesmente não se aquecem, não se alimentam direito, nem se hidratam como deveriam.
Isso talvez não faça tanta diferença no juvenil, onde as disparidades físicas e técnicas são grandes. Um atleta talentoso ou mais desenvolvido fisicamente muitas vezes vence mesmo sem cuidar desses detalhes. Mas essa negligência cobra seu preço mais à frente.
No circuito profissional, todos são muito bem preparados física e tecnicamente. A diferença está nos detalhes — e na consistência. Os hábitos que não foram criados na base dificilmente serão construídos mais tarde, quando a exigência é maior e não há espaço para improviso.
Preparação mental e estratégica
Outro ponto forte do livro é a preparação psicológica e estratégica. Muitos atletas simplesmente “entram para jogar”, sem pensar no plano de jogo, nas características do adversário, nos próprios pontos fortes. Às vezes há até alguma tentativa de planejamento, mas de forma superficial, inconsistente.
Essa falha costuma estar ligada a um despreparo emocional. Um atleta que não sabe manejar bem suas emoções acaba se perdendo durante o jogo: abandona seu plano, se desorganiza mentalmente, ou se entrega emocionalmente à frustração. Por isso, pensar o jogo com antecedência — tanto no nível estratégico quanto emocional — é essencial. Ter um plano e manter-se fiel a ele exige preparo psicológico.
A importância da ludicidade no juvenil
No entanto, ao falar com pais, treinadores e atletas juvenis, faço uma ressalva. É importante que essas rotinas não se tornem uma fonte extra de estresse. A busca pelo alto rendimento já é naturalmente exigente, e o risco é transformar o esporte em algo pesado demais, especialmente para crianças e adolescentes.
Por isso, defendo que essas práticas — físicas, emocionais e estratégicas — sejam introduzidas de forma lúdica. O aquecimento pode ser uma brincadeira ativa. O planejamento mental pode ser feito como um jogo. O trabalho emocional pode acontecer por meio de atividades que gerem identificação e diversão.
O ser humano gosta do lúdico, em qualquer idade — só muda a forma como isso se expressa. E quando algo é divertido, a motivação aumenta. Isso vale tanto para os jovens quanto para os profissionais.
A leitura do jogo: habilidade subestimada
Uma das partes mais valiosas do livro, para mim, foi a que trata do durante o jogo. Gilbert oferece dicas práticas sobre como enfrentar diferentes estilos de adversário: canhotos, defensivos, agressivos, corredores, entre outros. Não vou detalhar aqui, porque ele faz isso muito melhor no livro, mas quero destacar um ponto essencial: a capacidade de ler o jogo.
No tênis, essa leitura é crucial. Trata-se de perceber o que está acontecendo na partida e reagir com inteligência. É algo que muitos acreditam fazer, mas que raramente é praticado de forma consciente. Várias vezes, após uma partida, escuto uma leitura do jogo feita pelo atleta que difere bastante da percepção do treinador ou da minha. Isso mostra como essa é uma habilidade que precisa ser desenvolvida.
Gilbert propõe uma pergunta simples e genial: “Quem está fazendo o quê com quem?” Essa pergunta ajuda a clarear o que está acontecendo em quadra. Pode ser usada durante ou depois da partida, sozinha ou com auxílio de alguém que assistiu ao jogo. É uma ótima ferramenta de treino para desenvolver consciência tática e emocional.
Por que ler Jogue para Vencer
Jogue para Vencer é um livro que recomendo fortemente para atletas juvenis, amadores e profissionais em início de carreira. Brad Gilbert chegou ao top 5 do mundo sem ser o mais talentoso — e isso por si só já é uma prova do valor do que ele tem a ensinar.
O que o diferenciava era a cabeça. Sua força mental, sua inteligência tática, sua disciplina. Ele sabia usar suas armas da melhor forma e, acima de tudo, sabia como ganhar — até mesmo nos dias ruins, quando nada parece funcionar.
E quem joga tênis sabe: tem dia que o saque não entra, que o golpe de confiança falha, que tudo parece fora de lugar. E é nesses dias que se decide quem vence e quem desiste.
O livro mostra, com clareza e simplicidade, como vencer mesmo quando o cenário é adverso. E esse tipo de ensinamento, para mim, é ouro.

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